Convite para o XV Congresso Internacional de Riscos Ocupacionais, Santiago de Chile 2015

Ser ou ter: o dilema da integração da prevenção na empresa do futuro

Ninguém está consciente de que não é o mesmo que ter a prevenção dos riscos profissionais (a seguir PRP) incorporadas na empresa e ser uma empresa que integra a prevenção.

A PRP está integrada em uma organização quando adota tanto medidas preventivas diretas como indiretas. As diretas englobam as de ordem técnica, administrativa e humana, incluindo os mecanismos de participação e consulta a todos os trabalhadores, qualquer que seja seu tipo de contrato e sua função dentro da empresa. Por sua vez, as indiretas levam em consideração tanto fatores internos como a direção geral, os investimentos, a seleção de pessoal ou a gestão de suprimentos, como externos, dentre as quais estão incluídas a gestão da cadeia de valor e as necessidades das partes interessadas.orp

Felizmente, cada vez mais empresas incorporam a PRP adotando estas medidas preventivas diretas. Mas elas integram a prevenção? Adotam as medidas indiretas? Por não fazê-lo existem fatores latentes que, ao não serem levados em conta, podem acabar causando danos à saúde dos trabalhadores.

O dilema de Erich Fromm está presente nas decisões estratégicas das organizações atuais. A prevenção pode ser entendida tanto como uma ação de cumprimento legal ou como uma questão ética e moral, refletida no planejamento estratégico da organização.

Ser uma empresa que pensa em prevenção e toma suas decisões seguindo diretrizes científicas e eliminando notas de aparência é posicionar-se no paradigma preventivo deste século e não permanecer na parte visível do iceberg. Devemos aprofundar, portanto, no estudo e prevenção de fatores latentes.

Confrontado com o dilema de ser ou ter, surgem uma série de perguntas abertas que poderíamos tipificar em: Por que a prevenção é tão pouco ativa no campo da investigação? Por que quase sempre suas decisões bebem de outras áreas e aplicam-se quase que por mimetismo seus métodos, sem sentido crítico? Por que parece que a PRP é mais uma técnica do que uma ciência? A pergunta não é vã. Muitos técnicos confiam mais em possíveis intervenções derivadas da experiência e dos resultados da mineração de dados, que em trabalhos contrastados cientificamente.

Certamente há muitas razões que levaram a Prevenção a estas estradas longe da ciência e mais próximo da aplicação de técnicas pelo uso, tal como é feito no departamento comercial para gerenciar relacionamentos com clientes. Porém, sem deixar de lado a necessária inteligência no uso da informação interna, temos que reduzir o interesse pela saúde e segurança dos trabalhadores por uma simples gestão da relação com os trabalhadores? E sendo que assim parece, qual deve ser a posição dos cientistas, administradores e agentes sociais frente a esta tendência ao “Worker Relationship Management” (WRM)?

Um dos problemas a se solucionar é a falta de diálogo. Esta carência dificulta o intercambio de experiências com todas as partes interessadas na PRP. E não me refiro audiências públicas em que cada participante aumenta a importância de seu trabalho sem fazer uma análise crítica, nem avaliar as propostas dos outros, para evitar o progresso de aprendizagem necessário. A interrelação é conditio sine qua non, como ficou evidente nas origens de congressos científicos no início do século XX. Nestas conferências participavam cientistas e técnicos que desenvolveram artefatos e geriam projetos, sem excluir os empresários para financiar, ou a imprensa para divulgar. Este comércio interno e externo crítico é, na minha opinião, um caminho a seguir.

Se a gestão científica começou, como não poderia ser de outra forma, de forma tosca e quase ofensiva – basta lembrar das origens de seus sistemas na organização militar que comparava pessoas e animais – a organização científica de prevenção ainda balbucia de forma temerosa e hesitante.

Hodiernamente, com a enorme capacidade fornecida pelo conhecimento de profissionais como médicos, psicólogos, engenheiros, toxicologistas… que vivem por e para prevenção, nós acreditamos que é o momento ideal para dar esse salto que posicione a ciência preventiva e nos permita gerar um primeiro nível de conhecimento para ajudar as organizações a serem saudáveis, seguras e competitivas.

Agora é o momento que a ORP 2015 nos oferece a oportunidade de intercambiar, discutir, valorar e aportar nossa visão para que possamos progredir constantemente, com o rigor científico necessário que nos leve a excelência diante do desenvolvimento de uma prevenção marcadas com as novas possibilidades e necessidades deste século.

Te esperamos para compartilhar, debater e impulsionar a prevenção entre todos!

Prof. Pedro R. Mondelo

Diretor da ORP

Universitat Politècnica de Catalunya

Espanha

Site do congresso: www.orpconference.org

Tradução: Bernard Machado